sexta-feira, 11 de março de 2011

MAIS MASMORRA NA MEMÓRIA

Presídio, dia de sexta-feira, véspera de carnaval, em vias de entrar em sala, mentalizando uma transvalorização em mais uma superaula de “Português Motivacional”, me veio a Pedagoga, de supetão, afirmannndo um Tema Transversal a ser trabalhado em caráter emergencial: Carnaval ou Dia Internacional da Mulher ou Ambos, vide as datas, pois faríamos uma mega-apresentação de colagens e textos para toda a comunidade carcerária e parentes, na semana seguinte após feriado, “já que também as turmas da manhã haviam escrito coisas lindas, emocionantes, que eu tinha que ver...” Atravessei-me todo! Primeiro porque com o advento de algumas facções evangélicas e carismáticas (ambas de caráter pentecós e tais), o carnaval de modo geral caiu em desgraça! Segundo, mulher, mãe, esposa e correlatos já são assuntos complexos para boa parte dos soltos no mundo, imagine para encarcerados, bastante estigmatizados e estigmatizantes. Daí, essas empreitadas carecem de planejamento, de uma introdução para comover a plateia, para depois mostrá-las como causas universais. Tentei: “...lembrem-se da mãe terra que nos alimenta com seus frutos e que, devido ao seu ciclo de fertilidade, deu-se a origem do carnaval, das religiões e das permissividades entre o sagrado e o profano, às custas das quais nos ‘divertimos’...” O burburinho era geral: “putas”, “piranhas”, “coisa do satanás”, “quero falar disso não...” [Caramba]: “gente, para se falar de algo não se tem que necessariamente elogiar, falem o porquê de vocês detestarem a coisa, depois a gente discute suas razões, eu preciso é de ver o nível do texto de vocês... Inventem alguma coisa...” / “Professor, eu não sei inventar nada não... Eu também não! Eu também não! Eu tamb...!” / “Usem a imaginação...” / “Não sei imaginar não...” / “Contem estórias engraçadas sobre a temática que escolherem...” / “Professor, eu não vejo carnaval faz cinco anos...” / “Escreva sobre o seu último, ora”... / “Mas é por causa dele que estou aqui...” / “Então fale em terceira pessoa, rapá, pelo amor de Zeus, não me comprometa, político faz assim, você não sabe? “Só existe corrupto porque existe corruptor” [escrevi no quadro] , viu, é assim que se faz!” / “Ah, assim sim, Pedro...” [Xiii, acho que a Dona não vai gostar!]

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