quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A HIPÉRBOLE E AS FASES DO HOMEM

Quando recém-vexado ao mundo, o choro a cargo do instinto nos garante o oxigênio dos pulmões. Logo aprendemos intuitivamente que, além das lágrimas, precisamos exagerar também em risos, para prolongarmos o nosso prazer e dos nossos mais (mãe + pai naturalmente correto, por sermos mamíferos). Posteriormente, ao ingressarmos na oralidade, não desprezamos os artifícios anteriores, mas as cobranças sobem de nível, então aprimoramos o disfarce: convenientemente aquilo que deve ser enaltecido perto da mãe e xingado perto do pai ou o contrário, mas aí devemos falar que foi o outro que nos ensinou tal coisa e deixemos o pau quebrar! Bem depois, na puberdade, perdemos poder de negociação: déspotas prepotentemente esclarecidos, passamos a ser o centro do universo. As transformações psicofísicas nos tornam uns D-E-M-O-N-S-T-R-O-S, tememos nosso corpo: poço de anseios, medos, frustrações; também repugnamos nossos paes (pai + mãe, de patrimônio, capitalíferos que já somos), porque os estúpidos estão pré-ocupados demais em nos manter e não entendem nossos dilemas. Se superado tudo isso, tornamo-nos então dissimulados profissionais, damos bom-dia ao patrão, quando deveríamos pedir aumento, e deixamos para desabafar no trânsito com alguém na faixa certa na hora errada. Avançando, lembramo-nos frequentemente duma infância / adolescência que não necessariamente existiu, “um lugar chamado Saldade Hill” (de mim), já então bastante maltratados pela dor do parto e pelo suor do trabalho... A crise aumenta conforme a idade vem! Daí, ninguém mais quererá escutar minhas edificantes estórias; daí o mundo será um peso sobre meus ombros arqueados... Daí que, meu caro amigo, Adão tinha sim para si um paraíso e talvez não fosse mais egoísta, por não ter o nosso umbigo!

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